quarta-feira, 29 de abril de 2009

Achado


(Jabba + Leia em Retorno de Jedi)



1) Germano Mathias

Que tal ganhar o livro "Sambexplícito - As vidas desvairadas de Germano Mathias" autografado pelo Germano e por Caio Silveira Ramos, o autor? Pois é isso que o Vermute com Amendoim quer te dar na nossa primeira promoção.http://www.vermutecomamendoim.com/2009/04/promocao-quer-ganhar-o-livro.html

Desculpem, Caio e pessoal do Vermute com Amendoim, mas só agora que eu vi a promoção só ia até Primeiro de Maio...


2) II Encontro Prática de Escrita: leituras, feitura e publicação

O primeiro foi bem legal.
Vagas limitadas e inscrições até 16 de maio.
Dia 19 de maio com Marcelo Maluf, Nelson de Oliveira, Marcelino Freire, Edson Cruz, etc.

3)Curso Prática de Criação Literária

Início 02 de Junho
Organização Claudio Brites e Nelson de Oliveira.
Informações: labmind e editora terracota

4)Lançamento livro "Jorge do Pântano que fica logo ali", do Marcelo Maluf

5)O muro e a cerca

Pois é, retiro o que disse. Acabei encontrando mais algum material sobre as cercas de contenção de coelhos na Austrália... Dizem que ela é melhor para segurar os dingos do que os coelhos... Seguem fotos da cerca:


Este último editei para ilustrar o conto do Muro. Ainda que eu preferisse outra coisa.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

aviso

Pretendo depois colocar em um lugar mais permanente (Talvez na imagem título). Mas, por enquanto, vai aqui mesmo: Este blogue terá atualizações de quinzenais a mensais.

Eu não quero viver disso.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Zerografia




Frank Kafka

"If you can dream it, you can do it. Always remember that this whole thing was started with a dream and a simple roach."





Embora alegasse que seu sobrenome era de origem indígena e mirabolasse histórias a respeito de seus antepassados, na realidade, Frank Kafka era judeu e nascido em Praga. O pai, sr. Hermann Kafka, faleceu em sua casa, quando Kafka tinha 03 anos. Pela descrição dos sintomas, suspeita-se de leptospirose. Sempre lamentou muito a ausência do pai. "Ele poderia ter me ensinado muito" Há quem afirme que seu jeito efeminado veio de ser o único homem criado em meio a uma família de mulheres. A mãe e as irmãs tentaram tocar o negócio da família, um armarinho localizado fora do gueto, mas o negócio acabou fechando.

Os Kafka decidiram tentar a sorte na Amérika. Foi um começo difícil nos bairros pobres de imigrantes em Nova York. Participou das guerras dos meninos jornaleiros, onde perdeu um olho durante uma briga com estiletes. Durante a recuperação, ficou aos cuidados da mãe. Nesta época, ocorreu um fato que jamais esqueceu e, segundo afirmou mais tarde, foi fundamental para que seguisse seu sonho. Acompanhou a mãe em uma visita a uma senhora doente, uma velha que se tornara um peso insustentável para sua família. Ao adentrarem ao quarto onde dormia a mulher, Kafka viu as baratas correndo para baixo da cama. Depois de saírem dali, havia aprendido sua lição: “Nunca seja um estorvo para sua família”.




Algum tempo depois, assistiu a seu primeiro desenho animado: "Klaus, the Brontossaur", de Winston McKay. Usou seu talento como desenhista para enveredar no indústria em expansão dos desenhos animados. Criou Rock Roach ou Rock, a Barata em 1921. Em 1923, estreou o primeiro desenho da dupla Rock Roach e o seu simplório parceiro, Duck Oklahoma, que foi um imenso sucesso. Começou uma carreira de fama e muita grana. O patrocínio dos produtores de maçãs levou a que Rock Roach se tornasse um fanático por maçãs. Apoiou o governo americano no esforço de guerra, fazendo Rock conhecer a América Latina em "¿Que pasa, compadre?". Construiu o hoje mundialmente famoso, Kafkaland, o maior parque de diversões do mundo, com atrações como o Castelo da Alegria, a Toca Labiríntica ou a Granja Penal de Duck Oklahoma. Alguns dizem que ele, juntamente com Willian Hearst, teria servido de inspiração a Orson Welles para a criação do protagonista do filme "Citizen K". Chaplin o odiava.

Após a Segunda Guerra foi processado por um antigo funcionário que o acusou de ter roubado suas criações. Kafka se defendeu: "Ele queria usar um rato como personagem. Eu disse, se é pra fazer uma criatura nojenta, nada melhor que uma barata. Além disso, ratos são orelhudos e eu já tenho problemas demais com minhas orelhas". O funcionário acabou desistindo do litígio, uns dizem por um acordo milionário, outros por pressão da CIA.

A história repercutiu mal mundo afora. Em 1966, já um senhor idoso, foi morto com tiro no peito por um membros de uma seita satânica gay beatnik. Max Brother Manson foi preso pelo FBI em um tiroteio diante do Chinese Theater. Entre os pertences do assassino, encontraram um envelope, com a estranha história de um sujeito que, ao despertar, havia se transformado em um ninho de ratos.




(Imagens "emprestadas" de Gregor Brown de R.Sikoryak, do grande "Masterpiece Comics")
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o muro



0




1

O cartaz está incorreto. Para tudo há limite. Ao homem não cabe respirar no vácuo ou sob a água do oceano. Ele não voa, não plana, não sobrevoa. Exceto quando cai. Ele nada, prende a respiração, não resiste mais que alguns minutos. Seu mergulho é raso, a pressão das profundezas esmagaria os olhos dentro das órbitas. Não cava com as patas feito os tatus ou as toupeiras: é um péssimo escavador, mesmo sendo a própria cova. A ele só se permite caminhar e correr, se puder e se aguentar.


Nós, coelhos, só podemos saltar.


2

O muro vai a perder de vista. As águias não procuram mais por filhotes distraídos, elas engordam pousadas sobre a construção, enfileiradas como pombas. Nós as ignoramos. Elas não atacam. Melhor esperar nossa morte. Então planam até o solo esturricado e calmamente abrem os cadáveres. Começam pelos olhos, pois este é o gosto das aves. O voo predador se resume a este bater de asas desapressado.


Orelhas, pequenos saltos e sobressaltos. Somos levemente ridículos. Entretanto, não aceitamos a morte. Este é o nosso costume: precisamos continuar. Coelhos não se suicidam. Estamos sempre fugindo. Sempre com medo. Por isto, prosseguimos. Apesar das nossas narinas não sentirem frescor de umidade, nossas orelhas não escutarem rumor das águas. Mas continuamos em romaria, saltando rente a cerca. Ela desaparece no horizonte. Procuramos uma fenda no muro. Um lugar para escavar. Mas a cerca está enterrada no solo. A maior obra desde a muralha da China. Mas não se usam mais pedras, ameias, torreões. O homem se aperfeiçoa, aprisiona com paredes ralas, um arame trançado, uma rede, que se prolonga pelo deserto e por baixo da terra. O homem estende sua teia de ferro.


Do outro lado, um mato bravo, outros sertões, outra caatinga, de espinheira, de rosácea, de coroa de cristo. Mas até esta miséria nos bastaria. Nossos olhos observam aquela relva pobre e venenosa, náufragos sedentos diante do oceano salgado. O vento ressequido cruza o muro indiferente. Alguns dos nossos tentam enfiar seus focinhos pelos furos da grade, mas o que se podia devorar já está devorado. Nosso filhos nos acompanham. Mamam de tetas desidratadas. Eles choram. Nós continuamos. O cio continua seu ciclo. É só o que nos resta, este prazer rápido de longas consequências. As fêmeas que sobram são disputadas, mesmo as mortas se pudéssemos as defenderíamos dos cães. Nossos filhos terminarão o que começamos. Nossa prole devorará a terra se esta o permitir.


Coelhos não gritam, mas estes se esgoelam em desespero e rolam na terra vermelha como pardais. Também não sobem em árvores, mas nós escalamos estes troncos esquálidos em busca das últimas folhas verdes. Nossos dentes crescem ininterruptos, mas sem nada o que roer, deixamos que eles cresçam e adentrem a carne, nosso sangue tempera nossa boca sem lábios. Nós permanecemos. Apesar das águias e dos dingos, apesar dos cangurus e dos coalas, nós permanecemos.

3

Contamos histórias que ajudam a esquecer a sede e a fome. Dizem que a cerca termina em meio a um oásis no deserto. Outros, mais cínicos, afirmam que a única fuga seria empilhar os corpos dos mortos e escalar até o outro lado. Há quem diga que um dia haverá um de nós que ensinará o caminho, como derrubar a cerca. Nossos filhos e nossas famílias reunidos contra a cerca. Um empurrão, e este muro vazado tombará. Invadiremos esta terra árida e a povoaremos com nossa ninhada.

Mentimos descaradamente, sabemos que nunca existiu, nunca existirá um de nós assim.


4

Não desistimos, temos fé. Mas para tudo, há limite. Para isto, demarcam-se os muros.












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Achados



Fonte: site do vidrinho (que precisa ser mais atualizado...)


1)Kafka por Crumb
(textos por David Zane Mairowitz. Editora Relume Dumará. 2006)

pg:165

"Na "Praga livre" dos anos noventa, seus livros não estão proibidos (ainda que não necessariamente lidos) e pode-se comprar uma camiseta de Kafka em cada esquina do bairro turístico, ou sua imagem em pratos de porcelana ou em madeiras talhadas por artesãos. É possível fazer uma excursão Kafka ("Almoce com Kafka" - não é piada) e visitar todos os lugares de Praga onde caminham seus fantasmas. Em breve, como Mozart em Salzburgo, será comercializado o rosto de Kafka feito de chocolate. "


2)Robert Sikoryak

Um quadrinista norte-americano que se especializou em fazer adaptações de clássicos da literatura em versões de quadrinhos "clássicos", vamos dizer assim. Então temos "Gregor Brown", metamorfose em versão Charlie Brown, Crime e Castigo em versão Batman e Robin, e até um "Esperando Godot" de Beckett, com Beavis e Butt-Head (?!). Não é um quadrinista muito produtivo, aparentemente. Já publicou na Raw, New Yorker e Drawn & Quaterly.


3)Oz Animals: site apenas com animais da fauna australiana


4)A cerca

Há muitos anos assisti um trecho de um documentário da TV a Cabo que mostrava uma cerca que impede que os coelhos se espalhem pela Austrália. Como o roedor não tem inimigos naturais no continente que deem conta de sua procriação acelerada, as autoridades ergueram uma cerca. As cenas de coelhos gritando e subindo em árvores são verdadeiras. Procurei alguma imagem disso no google e não localizei. Terei sonhado?

Encontrei menções a tal cerca, mas uma antiga, do começo do século XX. A filmagem era recente... Ou no mínimo não era tão antiga assim. Entretanto, como falo tudo de memória, pode ser que eu esteja enganado.

Alguns links que mencionam a história da reprodução descontrolada dos coelhos na Austrália:
http://www.nla.gov.au/pub/nlanews/2007/sep07/story-4.pdf
e http://library.thinkquest.org/03oct/00128/en/rabbits/history.htm


5)Coelhos não se suicidam? Tem certeza? Extratos de "Suicide Bunnies", livro de Andy Riley... Muito engraçado...

6) Caso você não tenha entendido: Não existe um desenho animado chamado Klaus, o Dinossauro. Aquele cartaz da Zerografia de Kafka foi (mal) "photoshopado" e este originalmente dizia respeito à Gertie, de Wilson McCay, o mesmo criador dos quadrinhos de Little Nemo. O cartaz original está aqui.

sábado, 4 de abril de 2009

faca cravada


Estava no alto a faca cravada.


Fora de vista, se não erguesse a cabeça. Quase ninguém olha para cima, enquanto caminha pela rua. Muito arriscado: a calçada cheia de degraus e buracos e fendas e rampas e bostas de cachorro. Mas, por acaso, eu a vi. Uma faca de pão, destas grandes, serrilhadas, cabo de plástico laranja, enfiada em um galho da árvore, quase fora de alcance. Eu não entendo muito de plantas, até hoje mal sei diferenciar rosas e violetas. De árvores, então... Não era um ipê, nem uma quaresmeira, não havia flores. O tronco era escuro, de aparência carnosa e úmida, um tapete de limo surgia nas dobras e se espalhava. Devia ter uns quinze metros, talvez mais, seus galhos disputavam espaço com os cabos de força dos postes. Percebia-se que a prefeitura cortara alguns galhos para não impedir a passagem dos coletivos e caminhões. A natureza não pode atravancar o fluxo de veículos.
A árvore estava na esquina de um cruzamento, perto do semáforo. Cogitei que a faca deveria ser estratégia de malandro. Um bandido deixa a arma na esquina e assim pode ir e vir tranqüilamente e usá-la apenas na hora de fazer o serviço, quando parar uma moça que esqueceu uma fresta na janela do carro. Porém, para ser justo, ponderei uma outra hipótese, menos grave, talvez. Havia uma residência adiante da árvore: bem antiga, com piso de cacos vermelhos e um jardim ressequido. Toda a manhã, eu fazia este caminho para o ponto de ônibus e, vez ou outra, cruzava a velha proprietária, sempre de camisola e óculos e cabelos desgrenhados como uma bruxa a varrer, furiosa, as folhas da calçada e do quintal.
Talvez não fosse uma faca de ladrão afinal. Podia ser que a faca estivesse cravada lá para sangrar a seiva da árvore e fazer então ela morrer. A velha poderia dizer adeus então a sujeita e ao cocô dos pombos que empestiavam seu quintal. Mas não devia ser isto, não. De plantas, conheço pouco, mas pelo que sei, o corte precisava ser mais baixo, no tronco principal e não em um galho alto.
Mas, por outro lado, faca de pão não é arma que se preza para um ladrão: a não ser que ele pretenda passar margarina na vítima depois de cortá-la.



À noite, sonhei estranho. Caminhava por uma floresta de filmes, não aquele mato suarento que a gente tem aqui. Uma névoa cobria o céu e o horizonte e me sentia perdido e gelado. Eu escutei um trote de cavalo, mas quem apareceu foi um velho de barbas longas e brancas, em uma ridícula camisa havaiana estampada com planetas, estrelas e meia-luas. Uma das luas transformou-se em uma foice pequena, e o velho a usava para aparar as extremidades da barba. Seu olhar era malicioso (eu não gosto desta palavra, pois me soa pervertida, mas agora não vou procurar outra), porém seu dizer era sensato: Com aquela faca na madeira há o risco de haver um crime ou morte e é melhor tomar a coroa para si antes que um aventureiro o faça.



Manhã seguinte, feriado. Cidade vazia, pareceria madrugada, não fossem os corredores matutinos e aqueles passeando com os cães. Fui à padaria e enquanto comia meu sonho, lembrei do outro, de verdade.
Saco de pães e jornal na mão, passei pela árvore. A faca permanecia lá. Antes de me render, refleti que poderia ser uma espécie de feitiço, algo como um despacho de macumba. Eu poderia acabar interferindo nas vontades dos orixás, acabar amaldiçoado ou coisa assim. Ainda assim, deixei meus embrulhos sobre a mureta pichada da casa da velha. Meus chinelos ficaram na calçada. Subi pelo tronco, não foi fácil, a madeira podre soltava-se em minhas mãos e sob meus pés.
Sobre a árvore, um último delírio surgiu, aquela árvore era mais antiga que a cidade, ela conseguiu sobreviver a tudo, ao concreto e ao asfalto, à fumaça e às pessoas, a cidade irrompeu a sua volta, apenas porque ela permitiu. E agora ela pede por uma chance, por uma voz. Retirei a faca de pão, escutei um grito à distância, poderia até ser uma sirene, mas a mim pareceu um animal. Caí da árvore.


Machucado, verifiquei o objeto de meu tormento. Estava escrito em letras mínimas sobre o cabo de plástico laranja, quase invisíveis: “Quem retirar esta espada da pedra será o Rei da Inglaterra”. Sorri e voltei para casa, achando tudo uma bobagem. Obviamente, isto foi muitos anos antes de nosso exército de motoboys tomar Londres devastada. Mas esta é uma outra história.













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(basicamente, este foi meu conto publicado em Anno Domini, antologia de contos organizada por Claudio Brites e Helena Gomes e publicado pela editora Andross)